terça-feira, 19 de maio de 2015

Como é que caiu?

- Quando eu estava quase a marcar um ponto, houve um adversário que veio do meu lado direito e que me agarrou pela cintura, desequilibrando-me. Depois houve outro que veio de frente e empurrou-me para trás. Então foi aí que eu caí e bati com a cabeça no chão.

- Era relva?

- Não, era dentro do pavilhão - ui! - o chão era muito duro.

- Em algum momento perdeu a consciência?

- Não. Só perdi a audição por uns momentos.

- Uns momentos… quanto? Uns segundos, uns minutos?

- Doutora, cerca de um segundo.

- Muito bem… E agora ouve bem?

- Não sei. Não sei se a senhora está a falar baixinho ou se sou eu que estou a ouvir mal.

Houve traumatismo craniano com perda de consciência. Fiz-lhe um exame objectivo com exame neurológico sumário e pedi-lhe uma TC crânio-encefálica. Liguei para o bip da neurocirurgia para depois me verem as imagens  da TC. Mais tarde, a neurocirurgia ligou-me de volta. Diz que está fino e que, por eles, tem alta.

Mas aquela imagem à minha frente... essa via-a eu bem. Via tão bem, que isto sucedeu em abril de 2014 e eu ainda a vejo como se tivesse sido ontem. Vejo-o sentado naquele gabinete do hospital de santa maria quase como o vejo sentado à mesa da minha sala: um calmeirão de 15 anos na urgência pediátrica. Entre o bebé da bronquiolite e a miúda da varicela, veio este mostrar-me como a brutidão de um miúdo de 90kg, na arena de um jogo de rugby, se pode conjugar com a exactidão de um segundo.

- Doutora, cerca de um segundo.





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