terça-feira, 27 de junho de 2017

HEart na comunicação social | Diário Insular #18


Margarida B. Martins Machado – Crónicas da rapariga do sótão

Não muito longe na História, em 2015, a nossa mui nobre, leal e sempre constante cidade foi invadida por famosas placas toponímicas (famosas, não pelas melhores razões, mas pela polémica linguística).

Este artigo não pretende renascer a controvérsia, nem muito menos comentar o facto de o senhor presidente. Álamo de Meneses, na altura, ter respondido à Agência Lusa que um dos problemas era estarmos habituados ao inglês americano ou que “o gosto de cada um não pode ser aferido por estas coisas". Contudo “Straight Street is not a matter of taste!” Não querendo encontrar culpados. Foi um erro e por muitas coisas boas que a Câmara de Angra faça, que o faz, também está passível de errar pois, afinal de contas, “all men make mistakes!”

Contudo, esta semana, estava a descer a rua da Sé, que sem dúvida alguma está lindíssima, (arrisco a dizer que Angra é a cidade mais bonita do mundo!), vejo em cada poste de iluminação uma bandeira a anunciar o nosso orgulho: somos a primeira cidade portuguesa a ser Património Mundial! Dei por mim a ler a tradução das dezenas (posso arriscar centenas?) de bandeiras a anunciar o nosso Wolrd Heritage – sim wolrd e não world! A pergunta que mais me interpela é a seguinte: como foi possível imprimirem, em série, esta expressão, colocarem-na num poste e ninguém ter reparado no erro?

Eu sei que errar é humano – aqui entre nós, também nunca fui boa aluna a inglês - “But you have to make an effort” - por isso se algum dia me pedirem para traduzir alguma coisa (por favor nunca o peçam!) terei que reconhecer as minhas limitações e de imediato recusar tal trabalho.

Ainda me lembro que, uma semana depois da comunicação social divulgar o caso das placas mal traduzidas na rua desta cidade, a British School apresentar a melhor aluna, não só dos Açores, mas do mundo inteiro: a terceirense Mariana Coelho. Foi também no início do mês de Agosto de 2015, que este mesmo jornal, noticiou o facto de os alunos açorianos terem sido os que mais se destacaram na língua inglesa nos exames internacionais. Nós também temos a Teresa Silva Ribeiro, para quem não sabe, uma famosa angrense – nascida e vivida – mas figura nacional na área da tradução (é graças à Teresa que há legendas nos épicos: “O Senhor dos Anéis”, “Braveheart”, “Os Miseráveis”…entre muitos outros e, claro, “Guerra e Paz” da BBC). Como é possível esta incongruência? Então nós temos gente muito, mas muito boa a inglês e apresentamos esta disgrace? Why?

Sim, nos terceirenses possuímos o potencial para “speak english, as it should be”, mas mais uma vez estão desaproveitados. Não só nas instituições públicas, mas de uma maneira geral, nas empresas, organizações, escolas…existe uma dificuldade em investir no que é bom e no que é nosso. Fomos nós que criámos a máxima: “It is good, because it is american”. Quantas vezes foi preciso ir para fora para perceber que afinal aquele açoriano tem jeito com os cavalos, percebe de música, cozinha e escreve muito bem? Não investir no potencial dos nossos jovens tem sido um preconceito perigosíssimo no desenvolvimento regional. Por um lado, incentivamos a emigração de mão de obra qualificadíssima, em contrapartida baixamos o nível de exigência dos que ficam e, não obstante, enchemos a cidade de “bad writings”.

Esta disposição conservadora traduz-se em vícios e trabalhos mal feitos e, isso sim é o “top of the holes”. É urgente promover quem merece ser promovido, quem é realmente bom. Por fim, gosto muito, mesmo muito da minha cidade, ao ponto de não aceitar que nenhum turista britânico se ria dela. “It is not fair”!
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margaridabenedita@gmail.com




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(Diário Insular | 27 de Junho de 2017)

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